segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Cabeça Ativa 42 * Antonio Cabral Filho - RJ

Cabeça Ativa 42
melhor revista de poesia temática do Brasil
...
Ano X
- agosto-setembro-outubro- 2018
Tema: Livro
Editores:
Claudia Brino / Vieira Vivo
https://artesanallivros.blogspot.com.br 
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Trova sobre livro

Amo a minha biblioteca,
doce nave da ilusão,
pois nela sigo até Meca
ou molho os pés no Jordão.

Humberto del Maestro - ES


*
O Livro e a América
Ao Grêmio Literário

Talhado para as grandezas,
p'ra crescer, criar, subir,
o Novo Mundo nos músculos
sente a seiva do porvir.
- Estatuário de colossos -
cansado doutros esboços
disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina,
da minha eterna oficina...
tira a América de lá"

Molhado inda do dilúvio,
qual Tritão descomunal,
o continente desperta
no concerto universal.
Dos oceanos em tropa
um - traz-lhe as artes da Europa,
outro - as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
como braços levantados,
lhe apontam para a amplidão.

Olhando  em torno então brada:
"Tudo marcha!...Ó grande Deus!
As cataratas - p'ra terra,
as estrelas - para os céus,
lá, do polo sobre as plagas,
o seu rebanho de vagas
vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
com os mundos - "Marchar!"

"Marchar!"... Mas como?... Da Grécia
os dóricos Partenons
a mil deuses levantando
mil marmóreos Panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
- Leoa de ruiva coma
de presa enorme no chão,
saciando o ódio profundo...
- Com as garras nas mãos do mundo,
- Com os dentes no coração?...

"Marchar!... Mas como a Alemanha
na tirania feudal,
levantando uma montanha
em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
nem gládios a cavar fossos
são degraus do prosseguir...
Lá brada 'Cesar morrendo:
no pugilato tremendo
quem sempre vence é o porvir!"

Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
tereis um livro na mão:
O livro - esse audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
que abrira a gruta do ventos
donde a Igualdade voou!..

Por uma fatalidade
dessa que descem de além,
o sec'lo que viu Colombo,
viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
da Alemanha o velho obreiro
a ave da imprensa gerou...
O geno vês salta aos mares...
Busca um ninho entre os palmares
e a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
desta sede de saber,
como as aves do deserto 
-as almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
é germe - que faz a palma,
é chuva - que faz o mar.

Vós, que o templo das ideias
largo - abris às multidões,
p'ra o batismo luminoso
das grandes revoluções,
agora que o trem de ferro
acorda o tigre no cerro
e espanta os caboclos nus,
fazei desse "rei dos ventos"
- Ginete dos pensamentos,
- Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro
fecundando a multidão,
Num poema amortalhada
nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
brada "Luz!" o Novo Mundo
num brado de briaréu...
Luz! pois no vale e na serra...
que, se a luz rola na terra...
Deus colhe gênios no céu!


*